Depois de
inúmeras pesquisas em de uma definição de arte, não desistimos de
perseguir este conceito, por vias muitas vezes complicadas, situam na
história, na produção individual dos artistas, em seus depoimentos
e digamos que esta seja uma necessidade intrínseca à essência
mesma da produção artística a criação de zonas de incertezas,
onde o que sabemos sobre a realidade que nos cerca choca-se com um
jogo de informações que vêm da ordem do sensível, do subjetivo,
do inesperado.
E o
artista Joseph Beuys, qual contribuição nos deixou?
1-
“Todo homem é um artista”. Esta é uma das afirmações de Beuys
que nos perturba face aos nossos conhecimentos e vivências no campo
da história da arte. Para nós que estamos acostumados a estudar os
nomes daqueles que marcaram a história com suas obras de arte, é
difícil assimilar a ideia de que todos os homens sejam artistas.
Neste momento surge a necessidade de relativizar esta formulação, e
é o próprio Beuys que nos esclarece: “Todo homem é um artista.
Isto não significa, bem entendido, que todo homem é um pintor ou um
escultor. Não, eu falo aqui da dimensão estética do trabalho
humano, e da qualidade moral que aí se encontra, aquela da dignidade
do homem”. (BEUYS, 1994)
2 -
Tanto Schwitters quanto Beuys estão inscritos na tradição da
colagem, que trata, justamente, de trabalhar com a poética do
fragmento. Um “pedaço de realidade” torna-se um universo inteiro
quando tratado de forma especial. O detalhe dá origem a uma
concepção de mundo. Como dizia Schwitters, “ eu construo a partir
de restos e a construção me interessa mais que a desturição. Mas
o que é unir restos? Roland Barthes nos indicaria uma resposta:
“Resto é o nome daquilo que já teve um nome, é o nome do que
perdeu seu nome”(MÈREDIEU, 1994).
3 -
Teria a arte que ganhar um outro nome para adquirir novos
sentidos? Eis o que nos diz o personagem Peter Stilman de um romance
de Paul Auster, que parece ser um grande admirador de Kurt
Schwitters: “Um lápis serve para escrever, um chinelo para calçar
um carro para ser dirigido eis aqui minha questão: o que se passa
quando uma coisa não cumpre mais sua função? Continua ela sendo a
mesma coisa ou ela passa a ser outra? Se você retira o pano de um
guarda-chuva, permanece ele sendo um guarda-chuva?” ( .. )
4 -
Tudo é criação, e a arte só depende da maneira como os
fragmentos deste “tudo” são sublinhados. As formas de nomeação,
de inserção da arte no social, também são preocupações destes
artistas tão importantes para as novas concepções da arte
contemporânea em geral, que ensaiam a equação arte/vída em suas
mais variadas possibilidades. Existe algo mais exigente do que um
olhar atento, desejoso de extrair do mundo seus aspectos mais
sensíveis, humanos, estéticos? Como tornar visível o sensível,
sem banalizar a experiência artística? O trânsito livre entre
a arte e a não-arte, entre a arte e a antiarte, não apenas introduz
a noção de mudança: sublinha-a, eleva-a à potência máxima no
alargamento dos limites do conceito arte.
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Questões:
1 - O que Joseph Beuys quer dizer com a frase: "todo homem é um artísta?"
2 - Explique o conceito de "poética do fragmento" e de que forma ela se relaciona com a frase de Roland Barthes que diz: "resto é o nome daquilo que ja teve um nome, é o nome do que perdeu seu nome."
3 - Comente as questões presentes no tópico 3 a partir da fala do personagem Peter Stilman.
4 - Comente a frase em negrito presente no tópico 4 acerca do visível e do sensível.